Experimente pesquisar nos buscadores de Internet palavras como “servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada”, ou “gastos serviços públicos”, “gasto público no Brasil e outros países”. Na esmagadora maioria dos resultados, o que veremos serão notícias, quase sempre dos mesmos veículos e ouvindo os mesmos perfis de economistas, repetindo alguns chavões que já estamos cansados de ouvir.
Apresentando dados distorcidos ou sem contextualização, veremos coisas como “o crescimento desproporcional da máquina pública no Brasil”, que gastamos cada vez mais com servidores públicos, ou que esses servidores são “privilegiados” e ganham mais do que os outros trabalhadores.
Acontece que, além de se basearem, muitas vezes, em informações divulgadas por setores oportunistas que desejam lucrar sobre as necessidades da população, elas não trazem um importante aspecto: o Brasil, na verdade, gasta bem menos do que os outros países com serviços públicos. Quer um exemplo?
Quando comparamos o total de servidores públicos no Brasil com o nosso total de pessoas ocupadas (isto é, que trabalham em todos os setores da economia somados) vemos que essa relação é bem menor do que nos outros países.
Nas nações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne a maioria dos países mais desenvolvidos do mundo, a relação é de 18 servidores públicos a cada 100 trabalhadores no total. No Brasil, esse patamar é de apenas 12 a cada 100. Chega a ser constrangedor quando comparamos o nosso dado com os de países como Noruega, Suécia e Dinamarca, que são referência na qualidade de vida e no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por lá, em média, quase 30% dos trabalhadores estão no setor público.
TAMANHO DA ECONOMIA E GASTO PÚBLICO: em um outro aspecto, o argumento do inchaço da máquina pública brasileira também cai por terra. A relação do que é gasto com os servidores em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), isto é, a soma de todas as riquezas produzidas no país.
Nos países desenvolvidos, o gasto com servidores públicos tende a representar uma fatia maior em relação ao tamanho da economia. Ou seja, proporcionalmente ao que é produzido em termos financeiros nesses países, o gasto com o salário dos servidores é maior do que no Brasil. Isso acontece porque aqui no Brasil a renda per capita (ou seja, por pessoa) é muito menor do que nos países considerados mais desenvolvidos.
Isso se repete também quando se divide o Produto Interno Bruto (PIB, que é a soma das riquezas produzidas no país) pelo total da população. O PIB do Brasil é relativamente alto (já chegamos a ser a sétima maior economia do mundo, antes de despencar para a 12ª posição por causa do fracasso do governo de Jair Bolsonaro) mas nossa população é muito grande (6ª maior). Então a proporção por pessoa é menor do que em países que possuem economia forte e população menor (nesse caso, o Brasil ocupa apenas a 30ª posição em um estudo feito com 35 países de economias emergentes).
Quer outra comparação? De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a quantidade de servidores públicos no Brasil tem crescido no mesmo ritmo que a quantidade de trabalhadores da iniciativa privada. É por isso que falar em “inchaço” da máquina pública brasileira é uma tremenda mentira.
Aqueles que espalham essas distorções representam interesses dos que desejam se apropriar do que é de todos para lucrar com os serviços que hoje são prestados pelo poder público. Se quisermos nos desenvolver e garantir qualidade de vida à população, temos que investir no setor público. E a história nos mostra que é assim.
DESENVOLVIMENTO E GASTO PÚBLICO: desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, é possível observar uma tendência geral de aumento de gasto público e investimento nos servidores nos países considerados desenvolvidos, incluindo os da Europa e os Estados Unidos.
Essa receita foi fundamental para esses países se desenvolverem, ou mesmo se reconstruírem depois da guerra. Com o crescimento da máquina pública, as nações puderam se dinamizar, garantir maior empregabilidade e os impactos econômicos foram muito positivos.
O aumento das pessoas empregadas no serviço público provocou aumento no consumo, o que fortaleceu toda a cadeia produtiva desses países e beneficiou, novamente, o poder público. Tudo isso gerou um efeito em cascata, que permitiu aos países desenvolver políticas que garantiam bem-estar social a seus habitantes.
Isso é tão representativo que nos Estados Unidos (que são usados erroneamente como exemplo de “Estado Mínimo”) 15% dos trabalhadores estão no serviço público. Então, por que aqueles setores oportunistas dizem que para o Brasil se desenvolver e garantir dignidade à população, deveríamos fazer exatamente o contrário e cortar investimentos públicos, diminuir o salário de servidores e privatizar?
Não faz o menor sentido quando analisamos como as outras nações progrediram. A “receita” não foi essa. É impossível que o Brasil atinja, por exemplo, o nível de pessoas alfabetizadas da França ou da Alemanha, investindo menos em educação do que esses países investiram.
Garantir bons serviços públicos e valorizar a carreira dos servidores é a chave para o desenvolvimento, porque eles sim existem para beneficiar a todos.