“Sempre avante”. A frase é de Guilherme Rodbard, perito oficial da Polícia Científica do Paraná. Recém aposentado, ele atuou na perícia oficial do Paraná por 28 anos: ingressou na instituição em 1995, e saiu no final de 2023. E foi a sua experiência que o levou a ser convidado para reabrir a série de entrevistas do Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (SINPOAPAR) com os servidores do QPPO (Quadro Próprio de Peritos Oficiais). Criada em 2019 com o nome “Trabalho de Perito”, a série está sendo relançada agora em 2024 com o título “Trabalho de Policial Científico”.
No bate-papo com a Assessoria de Comunicação do sindicato, Rodbard conta que atuou por quase 3 décadas na UETC Paranaguá. E também relembrou como era trabalhar nos locais de crime com a tecnologia da época. As ocorrências no litoral eram em menor gravidade. Existia, na década de 1990, o “Setor de Mecanografia”. A tecnologia não era tão avançada como hoje. E o perito criminal tinha o “status” de “relações públicas”. Quer saber mais sobre a experiência do colega na perícia oficial?
Leia a entrevista completa:
SINPOAPAR: Como era atuar na perícia oficial do estado na década de 1990?
RODBARD: “Era bem difícil atuar na Localística por falta de condições materiais, como viaturas, câmeras fotográficas, computadores, impressoras etc. Sem falar que, na época, ainda existia o Setor de Mecanografia, que era destinado a datilografar os laudos. [Era] bastante problemático, pois na revisão feita pelo perito sempre existiam erros que faziam o documento voltar para ser datilografado novamente depois das correções.”
SINPOAPAR: Quais eram os principais tipos de ocorrências em que você atuava?
RODBARD: “Na época existam muitas ocorrências de furto qualificado, nas quais o perito era chamado para preservar as evidências. Mas, na prática, o perito era utilizado como ‘relações públicas’, para acalmar a vítima que estava indignada com a perda de seus bens. Digo isso pelo motivo que, na maioria dos casos, o autor não era conhecido e assim o laudo não servia para muita coisa nesses casos. Na época, os crimes de morte e acidentes de trânsito existiam em quantidade muito menor que atualmente, pelo menos na região do litoral, onde sempre atuei.”
SINPOAPAR: Quais os desafios enfrentados para exercer o trabalho, na época?
RODBARD: “Os maiores desafios eram em relação à falta de material para realização dos exames. Não tínhamos viaturas adequadas para o deslocamento, faltavam máquinas fotográficas apropriadas. [São] dificuldades que me fizeram utilizar equipamentos próprios para maior facilidade da realização dos trabalhos.”
SINPOAPAR: Ao longo dos anos, o que mudou no trabalho pericial?
RODBARD: “A tecnologia avançou muito com o passar dos anos, proporcionando exames mais precisos como os de DNA. A informatização fez com que os processos de impressão dos laudos, já com as imagens digitais, ficassem muito mais fáceis e rápidos, eliminando o Setor de Mecanografia. Por outro lado, tal tecnologia também criou outros crimes na área de informática, levando à contratação de peritos especializados na área. Sem falar na identificação pericial de veículos, as quais muitas vezes os falsários, utilizando de tecnologias, conseguem resultados excelentes nas adulterações das numerações de chassi e motor dos veículos, inclusive adulterando o módulo eletrônico onde constam tais dados, assim dificultando muito a identificação de veículos adulterados. Ou seja, a tecnologia avançada ajuda e atrapalha o trabalho pericial, dependendo do setor e do lado que ela é utilizada.”
SINPOAPAR: Algum caso emblemático que você atuou que o marcou? Se sim, pode contar sua experiência em trabalhar nele?
RODBARD: “São muitos os casos – incêndios, homicídios, acidentes de trânsito, falsificações – cada um deles com suas características próprias. Trabalhar neles sempre é um desafio. No caso dos peritos que atuam na Localística, sempre digo que o melhor é que nada aconteça. Sempre, em todos os plantões, pedi para as maiores forças do universo que colaborem para preservar a paz e segurança da população que reside e transita na circunscrição que atuei.”
SINPOAPAR: Como foi fazer parte desta força da segurança pública do Paraná?
RODBARD: “Fazer parte desta força da segurança pública é bastante glamouroso, pois os outros setores sempre nos admiram e respeitam.”
SINPOAPAR: O que a Polícia Científica representa para a segurança pública, na sua opinião?
RODBARD: “A perícia representa a prova material inquestionável, que quando obtida adequadamente fortalece a decisão judicial e fundamentação da sentença pelo juiz.”
SINPOAPAR: Qual é o legado que um policial científico com a sua experiência deixa para a perícia oficial do estado?
RODBARD: “Todo trabalho pericial deve ser feito com imparcialidade e todos os detalhes devem ser avaliados com cuidado. Entretanto, muitas vezes é difícil não se envolver emocionalmente com alguns casos, principalmente quando envolvem crianças. Quando em algum momento isso acontecer, respire fundo e faça o melhor possível.”
SINPOAPAR: Como você avalia hoje a evolução da perícia no país, com a autonomia das polícias científicas cada vez em evidência?
RODBARD: “É muito importante a autonomia das polícias científicas para que não sofram pressões. Acredito que a atual direção da Polícia Científica do Paraná está fazendo um ótimo trabalho, que está servindo de exemplo para todas as polícias científicas do nosso Brasil.”
SINPOAPAR: Qual o recado que você deixa para os colegas que, assim como você, enfrentam os desafios diários da perícia oficial?
RODBARD: Sempre avante.
Assessoria de Comunicação
SINPOAPAR