Um perito criminal que é fã de drones: esse é Augusto Pasqualini, nosso colega da vez da série “Trabalho de Perito”. O Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar) deu uma longa pausa entre a primeira reportagem que resultou da entrevista com Angela Andreassa – em outubro do ano passado –, mas agora retoma as conversas com os colegas da Polícia Científica, para conhecer o dia a dia de suas rotinas dentro e fora dos laboratórios forenses e locais de crimes. No bate-papo com Pasqualini, por exemplo, descobrimos uma curiosidade: ele fez a prova do concurso da PCP no dia do seu aniversário.
Formado em Engenharia Elétrica pela UFPR, Pasqualini é especialista em Administração Pública com ênfase em Perícia Criminal e ainda em Docência do Ensino Superior. Ele é de uma família de professores e apesar de estar há 10 anos na Polícia Científica, manteve sua proximidade com a área da Educação: como membro do Rotary Clube Ponta Grossa Sul, participa de um projeto de incentivo à leitura chamado “Linha de Leitura”, focado nas séries iniciais do ensino fundamental das escolas municipais de Ponta Grossa.
Casado com uma professora doutora em Biotecnologia, Pasqualini tem um filho de 5 anos, com quem procura passar o maior tempo durante as folgas. Quando não está trabalhando, pratica a “corrida de orientação”, esporte que equivale a uma trilha onde o atleta precisa se orientar apenas por meio de uma bússola. Moedas brasileiras antigas e raras e livros antigos de ciências forenses são itens que ele gosta de colecionar. Outra singularidade do seu dia a dia fora da Polícia Científica é o rádio amadorismo e o código morse – atualmente o perito estuda o sistema binário e tem como meta saber se comunicar por ele até o fim de 2020.
O principal hobby do perito criminal, no entanto, é montar drones. “Não sei quem veio primeiro, se comecei por uma questão pessoal ou se foi para aplicar no trabalho”, diz. Essa “paixão” pelos drones, como ele define, o levou a apresentar, nos congressos e seminários de criminalística que participa desde 2013, trabalhos científicos na área de drones, aerofotogrametria, modelagem tridimensional, sempre relacionados a locais de crimes.
TRABALHO DE PERITO: “perito oficial é aquele profissional que todo mundo já ouviu falar, mas quase ninguém já conheceu um. Isso acaba gerando uma certa romantização sobre o trabalho pericial, mas é um trabalho como qualquer outro. O perito é um profissional que tem objetivos a cumprir, carga horária a cumprir. Recebe pressão todos os dias, de todos os lados”, analisa. Augusto Pasqualini é um dos peritos do estado que está habilitado para atuar em qualquer missão da Força Nacional de Segurança, caso seja convocado.
Atualmente lotado no Instituto de Criminalística de Ponta Grossa, já passou por Curitiba, Umuarama, Foz do Iguaçu, Guarapuava e Paranaguá e relata que nas seções técnicas do interior, o perito criminal tem que ser “O” perito. “Tem que entender de tudo ou pelo menos um pouco de tudo. Ele atua em todas as áreas, muitas vezes sozinho. O perito que trabalha no interior aprende muito a se virar sozinho, aprende muito sobre muitas coisas e acaba sendo uma pessoa bem versátil”, reflete.
Conforme Pasqualini, quem trabalha no interior tem “contato mais estreito com as outras polícias, especialmente com a Civil”. “Como são poucos peritos e poucos delegados, cria-se certa amizade. Sempre que existe uma dúvida num caso mais delicado, uma boa conversa entre perito e delegado acaba resultando num trabalho investigativo mais direcionado com o apoio de um perito. Na capital, pelo menos na vivência que tive, isso não existe. O perito quase não conversa com o delegado. Esta é uma diferença ruim para o lado da capital e boa para o interior: o estreitamento do relacionamento entre as polícias Civil e Científica.”
Um exemplo do relacionamento entre quem realiza a perícia e quem investiga foi de um caso em que o próprio perito criminal atuou: em um exame pericial, Augusto Pasqualini identificou que a vítima encontrada em uma estrada rural havia sido assassinada e sugeriu ao delegado responsável pela investigação que fosse feito um outro exame no veículo de um suspeito. “Foi um crime que instigou muito a população [local] e o laboratório de DNA em Curitiba confirmou que o sangue era da vítima. Foi um trabalho que particularmente me deixou feliz, porque vi que realmente o trabalho da perícia conseguiu ser, de certa forma, crucial na prisão do suspeito”, complementa.
DESAFIOS DA PROFISSÃO: para o perito criminal, o principal desafio na carreira é se manter atualizado com as tecnologias e técnicas novas que surgem a cada dia na área forense. “Como o próprio nome diz, nós somos a Polícia Científica. Metade do nosso trabalho é científico. Então, temos que ser cientistas, de certa forma. E para desempenhar essa função temos que estar atualizados, mas às vezes não sobra tempo ou falta estímulo para buscar essa atualização”, observa.
Somado a isto estão outros obstáculos: casos complexos, que muitas vezes exigem horas de coleta de vestígios, tornando o trabalho cansativo; além da pressão no atendimento ao local de crime e para a entrega de laudos periciais, em meio à falta de efetivo no quadro próprio de peritos oficiais (QPPO). “No local tem um monte de policial militar e de policial civil para fazer o trabalho, e tem um perito. Então, fica aquela pressão das outras forças policiais e da própria concessionária para liberar a pista. E tem um perito, sozinho, fazendo todo o trabalho. Por isso torna-se cansativo para uma pessoa só”, exemplifica, ao falar sobre o caso de uma explosão um carro-forte que atendeu.
Assessoria de Comunicação
Sinpoapar