Perícia de voz realizada pela Polícia Científica do Paraná identificou autor de crimes sexuais cometidos em 2014, em Goioerê, interior do estado. O exame, solicitado pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), foi decisivo para que a denúncia fosse oferecida e aceita pelo Poder Judiciário. O processo corre em segredo de justiça.
Conforme o MPPR, o próprio autor dos crimes teria filmado e divulgado vídeo onde ele oferece entorpecentes a usuários de drogas, em troca da prática de atos sexuais. As imagens foram parar na internet, com grande repercussão nas redes sociais. O apoio da perícia oficial foi solicitado seis anos após o crime, diante do esgotamento das investigações.
Responsável pelo laudo pericial, Denise Carneiro Berejuk, perita criminal lotada no Núcleo de Perícias Audiovisuais do Instituto de Criminalística, explicou ao Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar) que o exame realizado foi o de comparação de locutores, cujo objetivo é identificar a autoria das vozes contidas em um registro audiovisual. O método utilizado foi o combinado: perceptivo-auditivo e acústico instrumental.
O trabalho pericial neste caso durou cerca de um mês e resultou na identificação de um dos três locutores presentes no material enviado pelo MPPR ao IC. “Este tipo de exame tem uma demanda mais demorada para ser feito, porque ele é feito todo ancorado na parte linguística, na parte acústica. Então, cada pedacinho do som, cada letrinha, cada fonema de uma palavra é dissecado pelos peritos, para vermos semelhanças e diferenças”, explicou a perita criminal.
Para conseguir realizar investigações como essa, Denise Carneiro passou por uma capacitação de 400 horas/aulas na Polícia Federal, no Instituto Nacional de Criminalística. No Paraná, este tipo de análise é feita desde 2009 e, além dela, há somente mais uma perita criminal apta a realizá-lo dentro da Polícia Científica.
DESAFIO: segundo Denise Carneiro, é comum que os materiais enviados para os exames de voz sejam degradados, mas neste caso, especificamente, foi ainda mais desafiador devido às condições muito ruins do conteúdo a ser periciado. “Por ocasião da pandemia, o material padrão não foi coletado pelas peritas e a audiência que foi encaminhada como padrão de voz foi feita por videoconferência”, relatou.
Outra adversidade do caso de Goioerê foi o material questionado: a voz a ser identificada foi gravada há seis anos. “À época esse locutor tinha uma idade em que a voz podia se modificar. Era uma voz que estava na transição para a fase adulta e poderia ter se modificado”, continuou a perita criminal. Somado a isto, ainda havia a qualidade ruim do áudio, com várias falas sobrepostas e ruído ambiente.
“O áudio era de uma qualidade muito ruim. Por ser um vídeo que correu em [grupos e conversas de] Whastapp e não ser o material original, [a qualidade] estava bem prejudicada. [Porém] neste caso, nos surpreendeu a quantidade de convergências que encontramos, apesar do sinal estar ruim”, finalizou Denise Carneiro.
Assessoria de Comunicação
Sinpoapar