“O interior é uma grande escola! Lá, é necessário aprofundar seus estudos em diversas áreas das Ciências Forenses: balística; crimes contra a pessoa; crimes contra o patrimônio; acidentes de trânsito; engenharias; crimes ambientais; identificação veicular, dentre outras. Tenho convicção de que seria enriquecedor para os peritos recém-saídos do curso de formação atuarem por pelo menos 2 anos no interior.” A dica é do perito criminal Leonardo Hostin, ao falar com o Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar) sobre sua experiência na perícia oficial em Foz do Iguaçu.
Hostin é o terceiro perito criminal do Instituto de Criminalística a participar da série “Trabalho de Perito”, criada para conhecer o dia a dia dos nossos colegas da Polícia Científica, dentro e fora dos laboratórios forenses e locais de crimes. Ele tem 7 anos de instituição e como passou 6 anos e meio no extremo oeste do estado, se sentiu no dever de “puxar um pouco a brasa” para as unidades do interior do Paraná. Sua vivência mostrou que a diversidade de atuação exigida fora de Curitiba e região metropolitana “aprofunda os conhecimentos teóricos e sua aplicação na prática”.
O perito criminal é graduado em Ciências Biológicas e tem mestrado em Zoologia pela UFPR – Universidade Federal do Paraná. Atualmente está lotado na Seção de Identificação de Veículos do Instituto de Criminalística de Curitiba, onde são realizados, em sua maioria, exames periciais nas numerações identificadoras dos veículos. O “Chassi”, como é conhecida a seção, atende delegacias na região de atuação de Curitiba – que vai da divisa de São Paulo até União da Vitória.
TRABALHO DE PERITO: único perito na Seção de Identificação de Veículos, Leonardo Hostin aponta que o principal desafio que enfrenta na sua rotina é a falta de recursos humanos. “Hoje temos um passivo que beira os 700 exames. Nestas condições é praticamente impossível se dedicar à atualização na área. Mas, como está sendo organizada uma força tarefa para a redução do passivo, aliada à lotação de pelo menos mais dois peritos no Chassi, a perspectiva para o próximo ano é de termos melhores condições de atender às demandas com mais agilidade”, afirma.
Questionado pelo Sinpoapar sobre casos em que já atuou e que marcaram sua carreira até o momento, Hostin disse que o primeiro ano de atuação na perícia oficial foi “particularmente bem exigente devido à inexperiência e à amplitude de exames que um perito do interior realiza” e lembrou sobre quando atendeu um local de morte em um parque aquático de Foz do Iguaçu, quando uma criança estrangeira de 9 anos faleceu após se afogou em uma piscina. O caso teve repercussão na imprensa local.
“Com relação à pressão do trabalho do perito, ela sempre existe. Claro que em casos de repercussão, principalmente como foi esta situação em que havia uma criança estrangeira envolvida, aliado ao fato de na época ter sido recentemente pai – minha filha estava com 1 ano e quatro meses –, o aspecto emocional pesou. Mas, quando temos a consciência da importância de nosso trabalho e buscamos realizar o melhor que podemos no momento, é possível encontrar calma no meio do furacão”, relatou.
ESCALADA, ARTE MARCIAL E MEDITAÇÃO: fora da Polícia Científica, a vida de Leonardo Hostin é ocupada por duas filhas pequenas e a esposa. E em tempos de pandemia, o perito criminal conta que tem aproveitado mais os horários de folga com a família, que também inclui dois cães e um gato. Ex-socorrista voluntário do Corpo de Socorro de Montanha (COSMO) – grupo de montanhistas que atua em resgates na Serra do Mar desde 1996 – ele curte música, fotografia e livros. Ainda quando se trata de atividades fora da rotina do trabalho, o perito se divide entre três paixões: a escalada técnica e o aikido (arte marcial japonesa), esportes que pratica desde a década de 90; e a meditação do Zen Budismo, que conheceu em 2009.
Segundo Hostin, a escalada foi a primeira atividade a qual ele teve contato, em 1992, durante um acampamento com colegas da faculdade no Pico Paraná. “Fiquei completamente apaixonado pela atividade, que envolvia persistência, superação, coragem, foco, companheirismo, liberdade, em um ambiente natural e de extrema beleza, só pra citar alguns aspectos que envolvem o montanhismo”, relata ele, que ainda naquele ano fez um curso básico de escalada técnica. De lá para cá, ele já colocou em prática seus conhecimentos em vários lugares do Brasil e da América Latina, como a Pedra do Baú (SP), a Serra do Cipó (MG), a região de Cerro Catedral, na Patagônia Argentina e o vulcão Licancabur, na Bolívia.
O aikido entrou na vida do perito 4 anos depois da escalada, em 1996. Arte marcial japonesa desenvolvida no pós 2ª Guerra Mundial, o aikido significa “o caminho da unificação com a energia vital”. “O estilo que que venho me aprimorando é o Ki-Aikido, que não objetiva vencer o adversário, mas sim, a prática da unificação mente-corpo. Durante o período que morei no Rio Grande do Sul, dei aulas e um dos meus alunos atingiu o Shodan (primeiro grau da faixa preta) e segue dando aulas por lá. Essa semente plantada e que está dando frutos me causa muita satisfação”.
Quanto à prática da meditação (zazen), ela começou em 2009, na Praça do Japão, em Curitiba. Desde então, Leonardo Hostin já participou de vários retiros da Comunidade Zen-Budista. O perito criminal vê, na meditação, um caminho para o autoconhecimento. Algo que, segundo ele, não é fácil. “Shunryu Suzuki Sensei, um monge zen-budista, fala em shoshin, que significa manter a ‘mente de principiante’, ou seja, manter a mente sempre original, fresca e aberta. Uma de suas frases me chamou a atenção porque soa irônico para quem é perito oficial, mas traz a importância de não termos uma mente muito engessada: ‘Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito’”, conta.
Atualmente, devido à pandemia da covid-19, Hostin mantém com regularidade apenas a prática da meditação, optando por suspender a prática da escalada técnica e do aikido como uma das suas medidas de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus.
Assessoria de Comunicação
Sinpoapar